
Bolsonaro telefonou para Mourão e fez um pedido antes de depoimento ao STF
O ex-presidente Jair Bolsonaro entrou em contato com o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) antes de seu depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado. A informação foi revelada por fontes próximas ao senador e gerou repercussão nos bastidores de Brasília. Segundo relatos, Bolsonaro teria feito um pedido direto a Mourão, orientando-o a manter uma linha de defesa alinhada com os demais aliados investigados no caso.
O telefonema ocorreu dias antes de Mourão ser ouvido pela Polícia Federal. Durante a conversa, que foi descrita como “curta e objetiva”, Bolsonaro teria reforçado a importância de uma narrativa unificada entre os militares e ex-integrantes do governo. Embora não tenha havido pressão explícita, interlocutores do senador afirmam que o teor do pedido foi entendido como uma tentativa de evitar contradições entre os depoimentos, o que poderia comprometer a estratégia de defesa coletiva.
Mourão, que foi vice-presidente de Bolsonaro entre 2019 e 2022, nega qualquer envolvimento em articulações golpistas e afirma que nunca participou de reuniões para discutir a anulação das eleições ou intervenção militar. Em nota enviada à imprensa, sua assessoria confirmou o telefonema, mas destacou que o senador prestou depoimento “com total autonomia” e que não se submeteria a orientações externas.
O gesto de Bolsonaro, no entanto, acendeu o alerta entre os investigadores. Integrantes da PF e do STF veem o contato como uma possível tentativa de interferência nos depoimentos, ainda que de forma indireta. O caso pode ser incluído no relatório final da investigação como um indicativo de que o ex-presidente atuou ativamente para articular uma versão comum entre seus aliados, mesmo após deixar o cargo.
A defesa de Bolsonaro, por sua vez, nega qualquer irregularidade no contato com Mourão. Em nota, os advogados afirmaram que o ex-presidente apenas manifestou “solidariedade” ao ex-vice e que o telefonema não teve qualquer objetivo de influenciar seu depoimento. “Trata-se de uma relação institucional e pessoal entre dois líderes que trabalharam juntos por quatro anos”, disse a defesa.
O inquérito em questão investiga a atuação de Bolsonaro e de aliados civis e militares na tentativa de desacreditar o sistema eleitoral e promover ações que visavam reverter o resultado das eleições de 2022, vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Além de Mourão, outros ex-integrantes do governo já foram ouvidos, incluindo os generais Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira.
Nos bastidores, a tensão é crescente. A possibilidade de novas delações premiadas e o avanço das investigações sobre as reuniões no Palácio da Alvorada colocam Bolsonaro sob forte pressão política e jurídica. A ligação para Mourão, mesmo que tratada como um gesto de cortesia entre antigos colegas de governo, é mais um episódio que reforça o cerco em torno do ex-presidente.