
Durante julgamento realizado nesta semana, o tenente-coronel Mauro Cid prestou depoimento que colocou o ex-presidente Jair Bolsonaro e o general Braga Netto em uma situação delicada perante as investigações conduzidas pela Justiça. Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Cid confirmou informações que sustentam as acusações envolvendo a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
Em sua fala, Mauro Cid reconheceu a existência de uma minuta de decreto golpista, supostamente discutida por Bolsonaro e seus aliados mais próximos, incluindo o general Braga Netto. O documento previa medidas para anular o resultado das eleições que deram vitória ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, utilizando, para isso, mecanismos que ferem diretamente a Constituição e a democracia brasileira.
Segundo Cid, o plano chegou a ser debatido em reuniões reservadas no Palácio da Alvorada, envolvendo militares de alta patente e integrantes do governo anterior. Ele também afirmou que foi incumbido de transmitir orientações e documentos relacionados ao plano de intervenção, embora tenha dito que não participou diretamente da elaboração das propostas.
As revelações de Mauro Cid reacendem a atenção do Supremo Tribunal Federal (STF) e da Polícia Federal sobre a conduta de Jair Bolsonaro no período pós-eleitoral. Investigado por incitar atos antidemocráticos e por envolvimento em esquemas de desinformação e tentativa de subversão da ordem constitucional, o ex-presidente pode enfrentar um agravamento de sua situação judicial.
Já Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022, também é citado como participante das conversas que visavam impedir a posse de Lula. De acordo com o depoimento, o general teria sido cogitado para assumir um papel de liderança em caso de ruptura institucional, o que o coloca no centro das investigações.
As falas de Mauro Cid, que firmou um acordo de colaboração premiada com a Justiça, podem ser decisivas para o avanço do inquérito que apura a tentativa de golpe. O depoimento será anexado a um conjunto de provas já reunidas pela PF, incluindo mensagens, documentos e registros de reuniões sigilosas.
Aliados de Bolsonaro negam as acusações e afirmam que Mauro Cid está tentando reduzir sua pena entregando versões distorcidas dos fatos. No entanto, investigadores destacam que as declarações estão sendo corroboradas por outros elementos colhidos ao longo da apuração, aumentando a credibilidade do conteúdo.
O clima em Brasília é de apreensão, com a expectativa de que novas delações ou provas possam surgir nos próximos dias, aprofundando ainda mais a crise no campo bolsonarista. Enquanto isso, juristas avaliam que, se confirmadas as intenções golpistas, os envolvidos podem ser enquadrados por crimes contra o Estado Democrático de Direito, o que pode levar a penas severas e inelegibilidade política.
O julgamento segue em andamento, e o país acompanha com atenção os desdobramentos de um dos episódios mais graves desde a redemocratização brasileira.