Em depoimento à PF, Bolsonaro surpreende e pede desculpas a Alexandre de Moraes
Em um gesto inesperado, o ex-presidente Jair Bolsonaro pediu desculpas ao ministro Alexandre de Moraes durante interrogatório realizado pela Polícia Federal nesta semana. A declaração pegou investigadores e advogados de surpresa, marcando um raro momento de recuo por parte do ex-mandatário, conhecido por suas críticas contundentes ao Supremo Tribunal Federal (STF) e, especialmente, a Moraes, relator de diversos inquéritos que envolvem o bolsonarismo.
Segundo fontes presentes no depoimento, Bolsonaro disse que “jamais teve a intenção de ofender pessoalmente o ministro” e que “se excedeu em alguns momentos”, fazendo questão de registrar sua retratação formal. A fala ocorreu de forma espontânea, em meio a perguntas sobre os ataques de 8 de janeiro de 2023 e os supostos planos para tentar anular o resultado das eleições presidenciais de 2022.
A defesa do ex-presidente avalia que o gesto pode ajudar a reduzir a tensão entre Bolsonaro e a cúpula do Judiciário, além de sinalizar uma nova estratégia diante do cerco judicial que se fecha cada vez mais. Atualmente, ele é alvo de investigações sobre tentativa de golpe, uso indevido da máquina pública, e ataques à democracia.
A reação de Moraes ao pedido de desculpas ainda não foi divulgada oficialmente, mas interlocutores próximos ao ministro disseram que ele recebeu a fala com “cautela” e “frieza”, considerando o histórico de confrontos. Vale lembrar que Bolsonaro já chamou Moraes de “canalha” em eventos públicos e o acusou de perseguir seus aliados políticos.
Nos bastidores, o pedido é visto como uma possível jogada política, já que Bolsonaro e seu entorno enxergam um cenário cada vez mais desfavorável para o ex-presidente no Judiciário. Há também a expectativa de novos desdobramentos com a delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens, que teria confirmado que Bolsonaro discutiu um plano de ruptura institucional caso fosse derrotado nas eleições.
A fala de Bolsonaro acontece num momento em que ele tenta articular sua defesa com maior cautela e busca manter sua base política mobilizada, mas sem agravar ainda mais a situação jurídica. Mesmo assim, a atitude gerou divisões entre seus apoiadores: enquanto alguns viram o gesto como um ato de maturidade, outros o criticaram nas redes sociais, acusando-o de “fraquejar” diante do STF.
Apesar do tom mais conciliador no depoimento, não há sinal de que a crise entre os Poderes esteja perto do fim. Moraes segue determinado a levar os inquéritos até as últimas consequências, e Bolsonaro continua sob pressão, inclusive com risco real de se tornar inelegível por mais de oito anos.
Ainda é cedo para saber se o pedido de desculpas trará algum impacto concreto nos processos. Mas o gesto, sem dúvida, marca um novo capítulo na conturbada relação entre Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal.
