
STF: Bolsonaro admite diálogo com Forças Armadas, mas nega plano golpista
Durante depoimento prestado ao Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Jair Bolsonaro reconheceu que manteve conversas com integrantes das Forças Armadas durante o período pós-eleitoral de 2022, mas negou qualquer articulação de um golpe de Estado para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A declaração foi dada no âmbito da investigação que apura suposta tentativa de abalar a ordem democrática após o resultado das eleições presidenciais.
Segundo fontes ligadas ao inquérito, Bolsonaro confirmou ter discutido o cenário político com militares da ativa e da reserva, mas afirmou que os encontros tinham caráter institucional e que jamais incentivou ações fora dos limites constitucionais. Ele também declarou que sempre respeitou a Constituição e que, ao perceber a vitória de Lula, determinou que fosse iniciado o processo de transição governamental.
A oitiva de Bolsonaro aconteceu em meio às apurações da Polícia Federal sobre uma possível minuta de decreto que previa a anulação do pleito, a intervenção em tribunais e a prisão de autoridades. O documento foi encontrado na residência do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, aliado próximo do ex-presidente. Bolsonaro, no entanto, nega qualquer ligação direta com o conteúdo da minuta e sustenta que nunca cogitou implementá-la.
No depoimento, o ex-presidente reforçou que não estimulou os protestos que ocorreram em frente a quartéis e destacou que se manteve em silêncio público por semanas após o segundo turno das eleições. A defesa de Bolsonaro argumenta que sua postura durante o período foi de recolhimento e nega que tenha havido qualquer movimento articulado com os militares para impedir a posse de Lula.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) acompanha o caso e avalia se há elementos suficientes para apresentar denúncia formal contra o ex-presidente e outros investigados. Até o momento, o inquérito já ouviu generais, ex-ministros e assessores próximos de Bolsonaro, em uma tentativa de esclarecer se houve ou não uma conspiração para subverter o processo democrático.
O STF ainda aguarda o desdobramento das investigações para decidir sobre eventuais medidas judiciais. Ministros da Corte têm adotado cautela ao se manifestar publicamente, mas bastidores apontam que a revelação das conversas com os militares pode ter impacto direto na condução do processo.
Bolsonaro, por sua vez, mantém discurso de que é alvo de perseguição política e que está sendo acusado sem provas concretas. Ele também afirmou, no depoimento, que jamais daria apoio a qualquer ruptura institucional e que sua trajetória sempre esteve dentro do campo democrático.
A expectativa agora é que a Polícia Federal conclua a análise de provas colhidas, como mensagens, gravações e depoimentos, para definir os próximos passos da investigação. O país segue atento aos desdobramentos de um dos capítulos mais delicados da política brasileira recente, que coloca em xeque os limites entre liberdade de expressão, atuação política e responsabilidade institucional.